- Bárbara Marques
- 1 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de mai. de 2024
Ah, aquela pressão auto imposta. A arte de inventar atividades aleatórias, colocá-las na agenda, dar um prazo, procrastiná-las (sabendo que não são necessárias) e se martirizar por não concluí-las. São tantos afazeres decididos por terceiros, às vezes nós só queremos decidir os nossos, sofrer pelos nossos, dizer para nós mesmos que algum compromisso ali é nosso.
Quando foi que o dia ficou tão curto? Sempre tive o dia cheio, mas parece que a cada nova descoberta sobre o mundo a vontade de conhecê-lo ainda mais se multiplica de forma exponencial e já não cabe tudo no espaço de tempo que tenho. E o tempo não é só meu, alguns rebeldes dirão que é, querem acreditar em seus protagonismos, mas estamos numa sociedade entrelaçada. Se você está em pleno destaque no seu palco, alguém está fazendo malabarismos para mirar o canhão de luz em você e ainda sobreviver.
O tempo não é só meu, e tenho que encaixar na agenda todos que quero entrelaçar. Aquela pressão é mesmo auto imposta ou estou tentando balancear o tempo com todos que o dividem, incluindo eu. E o que eu quero fazer com o tempo que reparto para mim?
O que quero hoje, quando o conseguir, vai me abrir quantos novos desejos? Nunca é uma troca de um para um. Um conhecimento novo abre tantos novos, tantas coisas que exigem mais tempo. E o tempo para o que já tenho? Vou manter esse tempo? Ou me desprendo do que um dia já ocupou o meu tempo?
As vezes acho que erro na conta e partilho com eles mais do que comigo, e então percebo que mesmo que tivesse todo o tempo do mundo ainda seria pouco. Quero muito, e acredito que estou certa, mas eles também tomam tempo demais. As vezes acho que erro na entrega de tempo com adicionais que no fundo ninguém pediu. Se fizesse assim ficaria melhor? Ficaria, mas é mais tempo lá, menos aqui. Alguém pediu? Ninguém pediu. Eu pedi.
Ao dar meu tempo pra quem não pediu, estou fazendo um agrado ou estou segurando a luz para outro palco? Até quando agradar seria razoável? Já gastei meu tempo fazendo o que achava que deveria sem saber que para o outro era um estorvo? Eu pedi. Que bonito seria ver um grupo de equilibristas apontando suas luzes uns para os outros em um equilíbrio perfeito. Mas somos humanos, alguns querem sempre mais, outros nem queriam sua luz, seu tempo. Tempo perdido.
Mas a lista de obrigações não obrigatórias cresce. Como diabos uma lista cresce na agenda de alguém que não vê ponto nenhum nisso? O ser humano nasce e cresce, tudo entre esses dois pontos é vaidade humana. Damos tempo a pessoas que, no fim, não levarão esse tempo. Nós, no fim, não levaremos esse tempo. Só gastamos tempo. Desesperada, invento mais um encargo para gastar esse tempo. Ah, esse agridoce de passar o tempo.